junho 30, 2012

Um amor para vida toda


"É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música."
Balzac

Certo, entendido. Mas, para desenvolver-se no âmbito da musica e descobrir do que seu violino é capaz, ele precisará tocar outras musicas. É muito difícil achar que, ele chegará a excelência tocando sempre a mesma melodia. Se a intenção dele é um repertorio curto, com variações do mesmo tema, pode até ser que a estratégia funcione. Agora, convenhamos, a mesmice cansa – e raramente satisfaz.

Quem conhece mulher tem uma única certeza, ela não é sempre a mesma mulher. São tantas as fases das nossas vidas, que é difícil elenca-las ou dizer precisamente quando elas acontecem. Arriscaria dizer que são praticamente diárias. Levanta a mão aquela mulher que segue achando que o Rafael do Polegar é o homem mais bonito do universo. Ou que, um batom vermelho nunca vai combinar com seu tom de pele.

A mulher deixa de ser filha, para tornar-se esposa. Deixa de ser esposa, para tornar-se mãe – claro, não necessariamente nesta ordem, mas a mudança é inevitável. Se ela não mudar e aprender novas musicas, dificilmente conseguirá lidar com as diferentes partituras da vida. Um dia, estamos felizes porque o ar existe, noutro estamos sufocadas porque ele está pesado. Se um homem só souber tocar uma música, não saberá lidar com o novo tom. E vai dançar.

A nossa amplitude é tanta e tão inexplorada que, por raras vezes, nós nos entendemos. Ele pode amar uma mulher a vida toda, mas ela jamais será a mesma. O seu amor, provavelmente será a maior razão da sua transformação.

junho 23, 2012

Humanidade 2012


Eu demorei para visitar a mostra Humanidade no Forte de Copacabana durante a Rio + 20. Francamente, não teria ido se não fosse por motivos profissionais. Trabalhando no setor de eventos, necessariamente é preciso visitar outros acontecimentos para conhecer coisas novas e gerar novas idéias. O que eu jamais imaginei foi que, sairia de la com outra visão do mundo, da beleza e do ser humano.

Humanidade 2012 é uma estrutura bruta, construída no Forte, habitada por uma quantidade de informação realmente incrível. Nota-se em cada detalhe do evento que tudo foi pensado e faz sentido. É possível ver a relação de convivência entre as estruturas metálicas, o feio as plantas e delicadas flores que guiam o caminho do visitante na exposição. As diversas salas suspensas, trazem consigo mensagens que podem nos fazer pensar durante horas. Com fitas iguais às do Senhor do Bom Fim, mas com o nome das mais diversas cidades do mundo, forma-se um mapa do Brasil. Mostrando que, nós brasileiros nascemos das mais variadas origens.

O pendulo encontra seu centro no Espaço da Humanidade
O mais incrível definitivamente foi a Sala da Humanidade. Revestida por 70 mil bonecos, que representam cada 100 mil habitantes, a população na Terra. A sala abriga além de 10 mil títulos, o pendulo que representando a humanidade, fica descentralizado sobre uma mesa redonda no centro da sala. Ao inicio da cerimonia do pendulo, somos convidados pela voz de Maria Bethania a nos unirmos e juntos mostrarmos que é preciso ter colaboração para se ter sustentabilidade. Pelo esforço em conjunto o pendulo encontra o centro da mesa, a música se intensifica, as luzes se acendem e quase 50 pássaros brancos - feitos de acrilico, sobrevoam a sala tirando o fôlego de quem está assistindo. 

A sensação da visita é indiscritivel, a harmonia entre o bruto e o delicado, a pobreza e a riqueza, o preto e o branco, é feita com tamanho cuidado que saimos de lá acreditando que realmente há esperança para nossa raça. São tantas as mensagens que se tira de uma visita destas, que certamente passarei meses tentando assimilar. O sentimento é avassalador, em diversos momentos me emocionei a ponto de ficar com lagrimas nos olhos. Sem nem perceber que a emoção era tanta, me deixei ser transportada para o mundo da fantasia, da felicidade plena. Pensar que, seres humanos construiram e pensaram neste espaço, mostra que existem no mundo pessoas que querem mesmo é ser feliz. Independente de tudo, elas seguem seu caminho e proporcionam a outros experiencias incriveis, ao custo de seu suor.

É uma pena que o mundo inteiro não tenha passado por ali, uma verdadeira lastima. Todos os registros feitos da exposição, sejam textos ou fotos, não fazem jus ao que experenciei. Mesmo nas palavras do melhor escritor ou atraves das lentes do maior fotografo, o sentimento não pode ser traduzido. Acredito que isto seja mesmo o objetivo, a felicidade por exemplo não se explica, não é perfeita e definitivamente não está presente o tempo todo. Mas, é aquela fé ou aquele sentimento dentro de cada um, que nos diz que tudo vai ficar bem. O Humanidade 2012 me deixou a mesma sensação - mesmo que não possa explicar o que vi, brilha em mim pela primeira vez o sentimento de que vamos ficar bem. O mundo vai encontrar seu caminho de volta. 

junho 20, 2012

Ensinamentos póstumos


Ela era assim, dondoca. Desde sempre, muito bem arrumada, perfumada e com o semblante inabalável. Vivia de saia, meia calça fio de seda, sapato com salto médio e o famoso lenço na manga da blusa de seda.
Perolas no pescoço, nada nunca muito ostensivo ou exageradamente grande, tudo na medida certa. Dona de uma educação impecável e ditados que explicam até hoje, o comportamento humano.

Detestava falta de educação, homens de estatura baixa e desrespeito à hierarquia. Frequentadora assídua das missas de domingo, tinha um canal reto com Deus, nosso Senhor. Rezava todos os dias e era abençoada a cada culto.

O que não se sabia, ou melhor, o que ela não transmitia era ser uma pessoa calorosa e observadora. Sabia de tudo e todos e seus atos, na maioria das vezes mal interpretados, sempre eram exatamente o que deviam ser. Nunca foi uma mulher de muitas palavras, mas aquelas que profetou, mudaram vidas.

Ao decorrer dos anos, perdeu familiares, amigos e conhecidos. A ponto de dizer que desistia desta vida para poder reencontrar seus entes queridos. Eis que, no alto de seus 94 anos, encontrou seu caminho e seguiu para tornar-se uma estrela.

Visitei-a em seu leito e conversamos por algum tempo. Era hora de dormir, e pela primeira vez esboçou emoção e medo do destino. Achei que era um temor natural, coloquei-a para dormir, me despedi com um beijo e um até breve. Naquele momento, vi pela primeira vez, a mulher fogosa, destemida e encantadora da qual ouvi histórias a vida toda.

 Jamais pensei que aquela seria a última vez que a veria, antes dos procedimentos fúnebres. Mas, aquele momento mudou minha visão de mundo, me fez pensar que, por debaixo de um casco grosso e resistente, podemos encontrar a mais frágil e singela das coisas. O amor.

O momento, certamente não foi o mais propicio, mas foi o mais marcante que vivi com minha avó. A Senhora Celeste Mariano da Rocha Silla, a mulher mais central, plural e absoluta que conheço.