Ela era assim, dondoca. Desde
sempre, muito bem arrumada, perfumada e com o semblante inabalável. Vivia de
saia, meia calça fio de seda, sapato com salto médio e o famoso lenço na manga
da blusa de seda.
Perolas no pescoço, nada nunca
muito ostensivo ou exageradamente grande, tudo na medida certa. Dona de uma
educação impecável e ditados que explicam até hoje, o comportamento humano.
Detestava falta de educação,
homens de estatura baixa e desrespeito à hierarquia. Frequentadora assídua das
missas de domingo, tinha um canal reto com Deus, nosso Senhor. Rezava todos os
dias e era abençoada a cada culto.
O que não se sabia, ou melhor, o
que ela não transmitia era ser uma pessoa calorosa e observadora. Sabia de tudo
e todos e seus atos, na maioria das vezes mal interpretados, sempre eram
exatamente o que deviam ser. Nunca foi uma mulher de muitas palavras, mas
aquelas que profetou, mudaram vidas.
Ao decorrer dos anos, perdeu
familiares, amigos e conhecidos. A ponto de dizer que desistia desta vida para
poder reencontrar seus entes queridos. Eis que, no alto de seus 94 anos,
encontrou seu caminho e seguiu para tornar-se uma estrela.
Visitei-a em seu leito e
conversamos por algum tempo. Era hora de dormir, e pela primeira vez esboçou
emoção e medo do destino. Achei que era um temor natural, coloquei-a para
dormir, me despedi com um beijo e um até breve. Naquele momento, vi pela
primeira vez, a mulher fogosa, destemida e encantadora da qual ouvi histórias a
vida toda.
Jamais pensei que aquela seria a última vez
que a veria, antes dos procedimentos fúnebres. Mas, aquele momento mudou minha
visão de mundo, me fez pensar que, por debaixo de um casco grosso e resistente,
podemos encontrar a mais frágil e singela das coisas. O amor.
O momento, certamente não foi o
mais propicio, mas foi o mais marcante que vivi com minha avó. A Senhora
Celeste Mariano da Rocha Silla, a mulher mais central, plural e absoluta que
conheço.
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